Um olhar sobre Setúbal

domingo, outubro 07, 2012

Setubalenses (1)

Fran Paxeco

(Setúbal, 1874; Lisboa, 1952)


 
Jornalista, escritor, diplomata e professor, Fran Paxeco escreveu uma coletânea de biografias de setubalenses intitulada Setúbal e as suas celebridades (Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, 1930/1931).

Sobre a sua passagem como cônsul no Maranhão, Humberto de Campos escreveu em diversos passos das suas memórias. Fica aqui um extracto:

«Aportando ao Maranhão, Fran Paxeco viveu aí como na sua terra. São Luís era, aliás, por esse tempo, uma cidade portuguesa, e em que dominava, ainda, o reinol.
O diretor de uma das folhas mais vibrantes da cidade era o português Manuel de Bittencourt. À frente do diário que defendia o Governo estadual, estava o português Carvalho Branco, a que o Partido
oficial, reconhecido pelos serviços relevantíssimos que ele lhe prestara nos
trabalhos de alistamento eleitoral, havia dado, numa recompensa expressiva, o privilégio para fabricar caixões de defunto. O comércio era, quase todo, português. De modo que, estabelecendo-se na capital maranhense, Fran Paxeco se sentia tão à vontade como se tivesse desembarcado no Porto ou em Lisboa. As vantagens que e le trazia, com a sua vivacidade e com o seu entusiasmo, justificavam, aliás, a cordialidade do acolhimento. Habituado a olhar o português como gente de casa, a mocidade maranhense, que saía do Liceu, e se iniciava nos cursos superiores fora do Estado, saudou Fran Paxeco à chegada, e proclamou-o um dos seus guias e mestres. E o hóspede se identificou de tal maneira com ela, que olvidou a sua condição de estrangeiro, e passou a participar da atividade social da terra generosa com uma solicitude bárbara, mas que era, em tudo, de uma sinceridade intensa e profunda. Miúdo e barbado, era, todo ele, nervos e cérebro. Mais tarde, tirou as barbas. Mas conservou inalteráveis o temperamento, o espírito e o coração, até o dia em que Portugal o removeu para Cardiff, como vice-cônsul, isto é, em um posto equivalente ao que o Brasil dera, ali, anos antes, a Aluísio Azevedo.
Humberto de Campos. Memórias e Memórias Inacabadas.

Fotografia, e descoberta do texto, aqui.